quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um Homem coerente

Muitas vezes somos tão incoerentes...
Queremos um namoro bom, mas buscamos relacionamentos de qualquer forma, superficiais; ou quando enfrentamos os primeiros desafios, descartamos logo o outro.
Queremos um amor maduro mas não queremos ter trabalho...
Sonhamos com um casamento eterno, mas não nos dispomos a viver o cultivo diário.
Desejamos uma família unida mas não nos abrimos ao perdão, a compreensão, a escuta...
Queremos pessoas que nos olhem devagar, que sobrevivam às estações, que nos conheçam e mesmo assim (ou exatamente por isso) nos amem, nos elejam, e continuem a eleger com o passar dos anos. Olhar devagar?! Somos tão apressados em ver o outro correspondendo às nossas expectativas.  Não damos tempo para as amizades respirarem, para os amores se enxergarem. Queremos ser amados mas não somos os primeiros a amar...
Queremos sucesso profissional mas muitas vezes não estamos dispostos a pagar o preço dos que obtiveram sucesso. Não temos disciplina, dedicação...
Queremos alcançar tantas coisas, mas não nos dispomos a trilhar o caminho necessário para alcançá-las...

Essa Semana celebramos a vida de um Homem que em tudo foi coerente, foi fiel aos seus planos, e se dispôs, não sem dor, a pagar o preço para alcançar seu maior objetivo: nos salvar!
Um Homem que aceitou ir até o extremo da cruz para nos amar, nos fazer livres e nos dar condições de sermos verdadeiramente felizes.
Mas antes Ele SE DEIXOU AMAR pelo Pai...
A missa de hoje nos convida a deixarmo-nos amar "para ter parte com Ele"... Celebramos hoje a Ceia de Jesus que "quis ficar conosco"  e por isso se fez Eucaristia!
Diante de tantas incoerências, infidelidades, aprendamos com Cristo a coerência de vida, a maturidade do amor, a fidelidade à nossa própria felicidade!

"Se eu não te lavar, não poderás ter parte Comigo..."
Quem não se deixa amar... como poderá amar?
Vamos ao encontro do Amor! Deixemo-nos amar...

Feliz Semana Santa!


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Saudades eternas!

Pudera eu conseguir compor uma música para expressar a grandiosidade da minha pequena avó Olivia. Sim, nada mais justo... pois todas as vezes que eu a encontrava, ela gerava uma melodia em minha alma que me afinava a tantas coisas da vida...
Tentar falar quem era a vovó é quase impossível. Como se traduz o belo? Como se traduz uma linda arte? Não se traduz... Se sente, se conhece, se experimenta...

Vou ousar citar apenas algumas coisas:
A primeira delas é possivelmente a mais marcante: o bom humor! Vovó era conhecida por suas piadas, metáforas, e seu jeito engraçado e alegre de conduzir a vida. O mais interessante eram os risos que ela dava, e que gerava aos que estavam ao seu redor, sobretudo nos momentos de dificuldades. Inúmeras são as histórias que as enfermeiras, por exemplo, poderiam contar sobre a vovó. Ela tinha uma juventude espiritual incontestável! Seu coração parecia estar sempre no período do Natal: o Menino Jesus nascendo e a fazendo estar sempre sorridente e disposta a viver bem a vida, e a não deixá-la passar de qualquer jeito.
Outra característica marcante era a sua capacidade de encontrar forças para lutar e para nos ajudar a perseverar na luta! Vovó foi uma guerreira... Sua vida foi marcada por dificuldades, desafios, e, mesmo assim, lembramos dela pela alegria. Isso revela o seu grande testemunho como cristã! Ela soube tomar a sua cruz e caminhar. Soube viver a Via Crucis e a Páscoa. Descobriu a alegria verdadeira, que não é fruto de quem só tem facilidades, mas sim de uma alma que descobriu o grande valor da vida! E nisto ela manifestava a mulher que nunca esperou que a vida fosse fácil para ser grata a Deus. Aliás, ela sempre valorizou toda forma de vida: o dom da sua própria vida, da dos seus familiares e amigos, da natureza, dos animais, e de tudo que respira...
A vovó tinha uma sensibilidade e uma capacidade de compaixão incrível... Não podia sequer ouvir nos noticiários que alguém sofria, pois verdadeiramente ela padecia junto. Não media esforços para ajudar as pessoas como podia.
Outro dom peculiar dela: levantar nossa auto estima! Naturalmente ela fazia com que não saíssemos de sua companhia como chegamos... Sempre semeava algo valioso em nós.
Para a vovó sempre tudo estava bom... “Vovó, o que você quer comer? Para onde você quer ir? Que roupa vestir?” “Qualquer coisa minha filha; o que você escolher para mim está ótimo!” – essa era sempre a sua resposta. “Ah vovó... pudéramos ter um coração grato e simples como o teu...“
A vovó não sabia ver ninguém triste... Há pouco tempo eu liguei para ela num dia em que estava me sentindo muito só... Um detalhe: eu não falei nada a ela. Ela com sua sensibilidade a flor da pele começou a me dizer da alegria por ter recebido minha ligação e seguiu dizendo que eu sempre teria nela um colo de mãe, e que eu nunca estaria a sós.
Como não falar também de sua alma tão caridosa e materna? Mãe a princípio apenas de um filho, o papai, ela gerou em seu coração outros incontáveis filhos... homens e mulheres de toda parte, que puderam gozar da alegria de pertencer ao coração gigante dessa pequena mulher.
Recordo-me com admiração do dia em que participamos de uma adoração em Fortaleza. Quando o Santíssimo foi exposto, eu disse a ela: “Vovó, não precisa se ajoelhar, fique apenas em pé”. E ela respondeu: “Mas aquele ali não é o Santíssimo?”. Respondi: “Sim vovó”, e ela já se ajoelhando disse: “Nem pensar minha filha. Diante Dele devemos sempre nos ajoelhar”. Vovó tornou-me mais adoradora...
Como não citar outro fato da mesma viagem, quando saiu meu discernimento de ingresso para ser missionária através da Comunidade de Vida. Impossível esquecer os olhos dela brilhando dizendo-me de sua alegria por me ver dando esse passo. Quando retornei para casa, com grande alegria ela disse: “Você alcançou a liberdade! Conseguiu o que poucos conseguem... Voou como um gavião. Quem diria... a Paulinha voou”. Vovó não sabia, mas um dos maiores frutos que eu acredito que colhi dessa experiência foi de fato a liberdade interior. Como ela foi importante quando eu parti e quando eu retornei!
Vovó tinha uma sabedoria que impressionava... De tudo retirava ensinamentos, conceitos, e marcava com seu olhar profundo e peculiar. Eis alguns exemplos:
 “O importante é que sua ação faça bem para você, porque você pode transmitir o que você sente as pessoas”
“Sempre o grande homem está nú. Seu pai sempre ajudava as pessoas”
“A igreja é a sua fortaleza!”
“É muito importante o homem ser pesquisador porque ele vai ser um dicionário da vida!”
“O livro é um meio de transporte”
“O amor é como se fosse um jardim. Precisa ser regado todo dia”.
“As árvores tem vida como nós mas tem outra raça, mas elas entendem...Temos que respeitá-las!”
“Felicidade não é dinheiro. Felicidade é vida!”
Vovó nos ensinou muita coisa... Dotada de poucos estudos, fez da sua vida uma grande escola para todos nós.
Posso ouvir ainda o som de sua voz dizendo: “Estou muito cansada, minha filha. Existe um tempo para cada coisa... Um dia nós chegamos e em outro precisamos partir. O meu dia está chegando...”. Ainda na UTI disse a minha irmã: “Já confessei meus pecados a Deus”.
Vovó concluiu então assim a sua missão entre nós, encarnando em si o mistério de ser cristã, traduzindo em sua vida a vida de Jesus, vivendo constantemente o Natal (tão bem expresso na sua alegria e esperança), a Via Crucis, unindo-se a Deus de forma ainda mais plena nos momentos que antecediam sua morte, e agora, certamente, desfruta da Feliz Ressurreição!

 “Sentirei saudades...”. Foi uma das últimas coisas que ela me disse... E hoje eu digo: “Deixarás saudades vovó, e por isso eterna serás, já que a saudade tem a capacidade de eternizar...”
Louvamos a Deus pela oportunidade de ser família com uma mulher tão generosa, tão materna, tão cheia de vida e, claro, tão alegre!
Em nós fica a saudade... mas muito mais do que isso.. fica sua vida em nós...
Obrigada por tudo!

Concluo com a música que ela amava, e que traduz muito de sua personalidade:
“Por isso uma força me leva a cantar.
Por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto. Não posso parar.
Por isso essa voz tamanha...”








sexta-feira, 8 de abril de 2011

Apenas um esboço...


Ainda não sei traduzir o que sinto sempre que me deparo com a morte. Essa experiência me faz viver diferente; abre diante de mim outras janelas para eu enxergar melhor a vida...
Ainda não consigo gerar palavras desde que a minha avózinha partiu, no último 5 de abril.
Aqui dentro é tudo silêncio ainda... 
Não ouço música, nem poesia; está tudo tão quieto.
Acho que é a saudade da melodia de minha avó. Sim, meu pai e minha avó tinham algo peculiar: geravam uma melodia em minha alma que me "afinava" a tantas coisas da vida.
Sinto saudades daquele ritmo... do movimento que ela causava em mim. Fazia olhar-me para o céu, para o homem, para a natureza, para a vida, para mim mesma...

Coloco mil músicas para ouvir... Nenhuma traduz o que sinto.
Mas nem sei o que sinto no momento. Eu sinto algo?!
Sinto um grande silêncio aqui dentro.... Nada consegue incomodá-lo... 
Encontro pessoas, leio, ouço várias coisas, mas o silêncio permanece lá, intacto, quieto, "cantando" pela casa.
É um silêncio bom e que dói ao mesmo tempo.
Tem horas que é como se eu estivesse diante do mar por horas, apenas contemplando, sem ninguém por perto. Em outras é como se eu escutasse apenas um piano, ou o som do vento.
Silêncio de alma que está sendo preparada para algo...

Uma estrada longa se abre à minha frente. Eu sinto... eu acho que até já vejo...
O que tem nela? Aonde ela leva? Não faço idéia... mas sei que Deus vai comigo e que é Ele quem inaugura esse novo tempo em mim...

Minha flor se uniu ao jardim de Deus... e a única coisa que eu consigo dizer é o mesmo que ela me disse antes de partir: "Sentirei saudades..."
É a única coisa que esboço dizer... 
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Obrigada de todo coração a todos vocês que sustentaram esses dias eu e minha família através da oração de vocês.
Pudera eu expressar o quanto senti-me cuidada por Deus através de vocês!
Deus os abençoe!