segunda-feira, 28 de março de 2011

Ser amado é ser livre

   Não acredito em amor que aprisiona.
   Não é próprio do amor nos fazer alçar vôo e ir aos lugares mais distantes, onde nem pensávamos ser capazes de chegar?
   Como se pode voar estando preso?
   Penso que o amor, quando nos encontra, vai quebrando tudo que escraviza e que nos diminui, e traz a alegria de descobrir-se amado pelo que se é.
   Acredito que o amor nos deixa livres sobretudo para sermos nós mesmos... sem precisarmos ser o que o outro quer que sejamos. Sim, quem me ama me ajuda a mudar, a ser melhor, mas não como condição para me amar, mas para que eu seja mais feliz.
   Existe "amor" que aprisiona até os sonhos do amado... que o afasta das pessoas que ele ama... que não o permite ser mais, ter mais (amigos, etc), por inveja, medo da perda, ou qualquer outro motivo, que na minha opinião está bem longe de ser amor.
   Não acredito em amor assim, e muito menos que alguém possa ser realmente feliz desse jeito.
   Alguém certa vez disse: "Liberdade é o espaço que a felicidade precisa". Concordo plenamente! Não consigo imaginar felicidade sem liberdade.

   Se aprisiona, e muito mais exige do que se dispõe a dar, sinceramente... questiono se de fato é amor...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Certeza do eterno


Partilhando com minha amiga Celina sobre a dor de um casal de amigos nossos, refletimos sobre muita coisa: amor, amizade, e sobre a brevidade da vida e dos relacionamentos.
Ela pediu que eu escrevesse sobre tudo o que estávamos refletindo para postar no blog dela (http://www.celinaborges.com.br/index.php?pg=detalhada&id=41), e aproveitei para partilhar também aqui com vocês:

Tenho tanta dificuldade com a brevidade das coisas, das amizades, dos amores... É tão complicado ver algo ou alguém que amo ir embora, sofrer demasiadamente ao meu lado!
Não falo aqui, tão somente de separações ocasionadas por falecimento, mas de pessoas que se vão de nossas vidas porque nos perdemos no meio do caminho. Estou aprendendo a lidar com isso, mas a verdade é que não sei se quero aprender... Queria mesmo que onde se diz “eu te amo” existisse somente a certeza do eterno.
Acho que nossa essência grita desesperadamente pela eternidade, por pessoas que nos olhem devagar, que sobrevivam às estações, que nos conheçam e mesmo assim (ou exatamente por isso) nos amem, nos elejam, e continuem a eleger com o passar dos anos... Aconteça o que acontecer! Aí está uma grande dificuldade, olhar devagar... Somos tão apressados em ver o outro correspondendo as nossas expectativas.  Não damos tempo para as amizades respirarem, para os amores se enxergarem.
Para resistir ao tempo, é preciso passar pelas diversas fases: tempo da apreciação, do plantio, do cultivo, dos frutos, das ameaças de morte, e, sobretudo, é preciso dedicação e disposição para que aquela semente não morra.
Percebo que muitas vezes quando a amizade ou o amor começa a aprofundar, quando começamos a descobrir as “ervas daninhas”, o que há escondido na intimidade, facilmente desistimos... Não queremos ter trabalho... Queremos a alegria da colheita, mas muitas vezes não estamos dispostos aos desafios do cultivo, do deixar cortar nossos orgulhos, deixar nascer virtudes de paciência e compreensão, não sabemos ser terra de acolhimento, ou sequer temos humildade para reconhecer que precisamos da Água para nos regar e nos conservar vivos.
Como somos tolos! Acredito que todos nós necessitamos de eternidade, do amor verdadeiro, do bem, de relacionamentos que sobrevivam ao tempo e às suas ameaças... Nossa essência traz isso! Fomos criados pelo Amor e para o amor é o sentido de nossa vida. Isso parece espiritual apenas, mas acho que isso é o que está entranhado na nossa humanidade. Então por que desistimos tão fácil? Sobretudo nós, que já experimentamos do amor de Deus, que insiste em nos querer, como podemos desistir de alguém que amamos? De um parente? De um amigo? 
Assim, depois de ver alguns partirem de minha vida, comecei a recorrer à Eucaristia de forma mais constante. Fui ao encontro Daquele que absolutamente não vai passar... Estava cansada... Muito cansada... E pedi que Deus fosse a minha única esperança, o meu único sentido; não queria mais consumir-me com coisas e com pessoas que com o tempo iriam embora.  Para minha surpresa, Deus foi ressignificando minha inquietação.
Aos poucos fui percebendo que de fato não devo confiar às pessoas o sentido e a alegria de minha vida, que devo apoiar-me em Quem nunca passará, mas que isso não deve gerar em mim um coração que não queira mais se dar, se envolver, se dispor a amar... Ao contrário, alimentando-me diariamente do próprio Amor, que poderia gerar em mim senão o desejo de amar mais? Compreendi então que se Deus estiver no lugar que deve estar, em mim , dentro de mim, sendo o sentido e sustento maior de minha vida, Ele próprio iria  ordenando-me para a vivência do amor.
Não foi Ele mesmo quem disse que devemos amar o próximo como a nós mesmos e como Ele nos amou? Isso para mim é o mesmo que dizer que eu não posso desistir de quem amo, pois eu vejo o amor de Deus assim... Que insiste em me amar e que jamais desiste de mim... Então, da mesma forma como Deus insiste em confiar em mim, em lançar-me um olhar de amor, em me dar nova oportunidade, eu também devo agir assim com os que amo; e da mesma forma que eu não desisto de mim, também não posso desistir do outro.
Penso que nossa essência, chamada a amar como Cristo, quer e precisa viver o amor! Eu nasci para amar! Eu acredito nisso e acredito que nisso está minha felicidade! Por isso hoje meu desejo é alimentar-me sempre mais Daquele que nunca deixará de me amar, para Dele aprender os traços de um amor que não exige, que deixa livre, que não tem pressa.
Quando comungo, meu coração aquieta e ao mesmo tempo se inflama. Percebo que naquele instante minha esperança se renova, e que essa necessidade de amar, sem que o tempo leve esse amor, e de alguma forma viver o céu na terra, é dada pelo próprio Deus. Se eu nasci para amar, preciso decidir-me por isso, e empenhar-me no exercício desse belo ofício que Deus me confiou.
Eu creio que mergulhada no Eterno terei a água que saciará minha sede, e que Ele me instruirá a permanecer no amor, a insistir em amar, e até mesmo a amar o outro o deixando partir...
Ser cristão, um “outro Cristo”, não seria isso? Traduzir em minha vida os traços de um homem que só amou, amou, amou...

“Amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8)