domingo, 10 de agosto de 2014

A arte de te ter vivo em mim


Esses dias tenho pensado tanto em ti... 
E hoje, no dia dos pais, meu coração se enche de gratidão por diversas coisas, mas quero falar de três em especial.
Primeiro, agradecer por me dares a arte para apreciar. Talvez essa seja uma das maiores coisas que me deste! Herdo muito de ti o amor pela música, pela dança. Lembro como se fosse hoje os diversos momentos que balançavas a cabeça curtindo uma música, e de teu jeito de juntar um braço no peito, e esticar o outro, e simular uma dança, me convidando para ir ao salão. Lembro também da gente indo para Salinas ouvindo tuas músicas, ou de ti falando que não sabe do que a música fala (em inglês) mas que te faz bem ouvi-la e tê-la ali de companhia. Lembro ainda do dia que me apresentaste no quarto os cds que estavas ouvindo àquela época, e me disseste: "minha filha, eu já passei noites e noites chorando com essa música". Oh pai, a gente se parece tanto...
Esses dias uma pessoa me disse: "toda criança devia ter aula ao menos de iniciação musical, para aprender a sentir e viver a arte". Concordo plenamente! A arte é um bem insondável! Ela nos ensina logo de cara o "respeito". É preciso atenção e silêncio interior para senti-la e deixa-la falar. Nos ensina a ter calma, a aprender o valor do tempo, dos passos, e compassos. Ela tira limites, alarga a alma, explica o inexplicável tantas vezes, nos ajuda a conviver com os mistérios, cala os barulhos interiores, nos faz ouvir outros melhores, nos faz enxergar tudo por uma janela tão mais bela... Não sou cantora, nem aprendi a tocar, mas sou imensamente feliz por quão profundo a arte toca em mim.

Outra coisa tão fundamental que me ensinaste foi a não ter medo de ser diferente. Posso te ouvir dizendo: "minha filha, é simples! Quer ser um diferencial, seja diferente e faça diferente da maioria". Nunca fui dessas de "ir na maré" porque todo mundo está indo. Acho muito tolo se deixar levar sem questionar se o caminho é realmente bom. Depositaste em mim o sonho de fazer a diferença nas diversas áreas de minha vida. Incentivaste minha capacidade crítica para julgar os comportamentos e as situações da vida; e de pensar, refletir, e decidir com coerência o que eu queria, devia ou não fazer; e com tranquilidade fazer o que eu entendia ser o certo. Isso me ajuda em tudo! Tudo! Das coisas mais simples até a vida profissional, eu me questiono "quem quero ser", "como devo agir". 
Me ajudaste, assim, a ser livre! Quero seguir meus princípios, ser fiel aos meus valores, ser "boba", menina, mulher, me arriscar a viver o amor, confiar, perdoar, ser livre para me dar sem medo, acreditar em coisas que acham utopia, acreditar nas pessoas... Não tenho medo de pensar diferente, de agir diferente. Desde criança né? Todo mundo gostava da Emilia, eu gostava da Cuca. As pessoas tinham medo de cemitério a noite, eu brincava de pira-esconde lá. Animal de estimação? Eu queria onça e golfinho rsrs. Eu gosto de óculos diferente, de relógio diferente, mas eu gosto mesmo é de ser diferente.

Por fim, a reflexão! Passavas horas e horas pensando, em silêncio, refletindo... Embora comunicativo, e barulhento rsrs, o silêncio era teu amigo, sobretudo nas noites em que refletias sobre tudo e mais um pouco! Era super comum, e praticamente rotina, nos acordares cedo, cheios de ideias ou de coisas que repensaste nessas horas e horas dedicadas a reflexão antes de dormir.

Oh pai, como sou feliz por ser tua filha, e por teres me presenteado tantas coisas imensuráveis!
Como sou feliz por essas heranças e semelhanças, que me fazem tão mais inteira para desfrutar da arte da vida! Amo-te!
"How I'd love to dance with my father again..."

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Máquina de escrever



Saudades da máquina de escrever
Justo eu, tão amante da tecnologia...
Saudades de quando tudo parecia precisar de mais cuidado,
para ser escrito, para ser dito
Precisava ver se caberia na linha, se precisaria dividir as palavras,
Ir com calma, remoendo cada uma, alinhando-as,
para a escrita ser boa.
Quando as coisas não eram tão imediatas e, nós, nem tão imediatistas
Quando o cultivo valia tanto quanto a colheita
Quando havia a surpresa da foto revelada
Quando se podia tocá-las, e até abraçá-las, aos mais bobos, feito eu.
Quando o carteiro trazia sorrisos envelopados
Quando os livros tinham cheiros
E o revirar das páginas era mais cauteloso, para não amassar;
e não apressado, num tablet qualquer...
Talvez a saudade nem seja da "tal" máquina,
mas de quem éramos, ao utilizá-la.

Obs: Este vídeo é um trecho de https://www.youtube.com/watch?v=bGZMekM0jog , 
que despertou esse texto.