sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eu discordo de você

"A concordância faz com que permaneçamos estacionados. A discordância faz com que cresçamos".

Esses dias tenho pensado nisso... e oportunamente reli essa frase do maravilhoso Mario Sergio Cortella.
Interessante como insistimos muitas vezes em ter resistência a palavra "discordo", ao pensamento contrário ao nosso, como se ele fosse nosso inimigo.

Conversava um dia desses com um amigo muito especial sobre cinema... Eu falava empolgada do quanto eu amo ir ao cinema, do quanto mergulho em cada detalhe das cenas, das falas, etc., e ele, para minha surpresa, diz que também gosta muito de cinema, especialmente para cochilar no meio do filme. Pensei que ele estava brincando, mas não, ele falava sério! Fiquei super espantada! Como alguém pode gostar de ir ao cinema para dormir?! Aquilo para mim, que não gosto nem de piscar nas cenas, era quase uma heresia!
Acho que eu fiquei espantada com ele tal qual as pessoas ficam quando digo que, embora eu seja apaixonada por futebol, adoro dormir ouvindo narração de futebol de time que não seja o meu, obviamente! (Senão me envolvo e é impossível sequer coxilar). 
Aquele barulho contínuo de narração parece que me hipnotiza e me faz dormir feito um anjo... rs...

Demonstrando a ele minha indignação com tal idéia, ele muito calmamente disse algo do tipo: "Linda, eu sou assim... meu prazer é diferente do seu... mas gosto muito também".
Confesso que aquela calmaria em me mostrar que "simplesmente" somos diferentes, e que eu deveria saber lidar com isso, porque não há mal nenhum nisso, de fato me fez pensar...
Realmente as pessoas não tem que sentir o mesmo prazer que eu... não tem que vivê-lo da mesma forma... não tem que concordar com o que penso, ou com a forma como eu gosto ou não de algo... Que prepotência é essa de achar que a MINHA forma de viver o cinema era a única forma acertada? 
Ok... isso é algo bobo... sem muita importância... mas será que aquilo não se estendia a demais situações? Talvez aquela minha resistência imediata a uma opinião contrária ao que para mim era o certo, sem que eu percebesse, poderia também se estender em outras situações de minha vida... 

Isso fez-me pensar se eu realmente estava aberta ao diferente, ao contrário a mim; se eu acolhia a discordância ou se a expulsava no primeiro sinal de contrariedade... Eu que em meu "discurso diário" costumo defender as diferenças, e tudo mais, me vi ali perdendo-me em algo tão simples...
Conviver com pessoas que sempre concordam com a gente é uma tragédia! Não faz crescer, não traz novidade...
É tão bom quando alguém nos faz lançar um olhar diferente a algo que nunca pensamos... que nos desestabiliza do que para nós é certo e nos dá novas lentes para enxergarmos outras realidades...
É tão bom quando converso com um amigo sobre algo, e mesmo ele, que tantas vezes se demonstra tão semelhante a mim, me surpreende com a fala: "Paula, sinceramente, eu penso diferente. Eu acho que...". Na hora eu volto minha total atenção e percebo que, ainda que aquilo gere um certo incômodo a princípio, no fundo gera também um certo gozo, porque aquela pessoa abriu uma nova janela para mim, me conduziu a outra forma de ver a mesma imagem, uma janela que eu nem sabia que existia.

Após essa situação do cinema parei para ter mais atenção com minha reação ao que é contrário ao que penso... pois definitivamente acredito que "a discordância faz com que cresçamos", ou no mínimo é uma grande oportunidade para tal. Ainda que aquele novo olhar não mude o meu, é tão enriquecedor ver uma nova forma de enxergar os mesmos fatos... 
Passei a me questionar mais se eu tenho de fato dado liberdade para o outro ser outro, ser ele mesmo, afinal, eu quero ter espaço para ser o que sou, pensar o que penso, e preciso dar espaço ao outro também. 
Penso que é uma grande sabedoria acolhermos e darmos atenção àqueles que discordam de nós. Ao invés de inimigos, talvez eles sejam nossos maiores amigos para nos tirar de nossa vida estacionada na mesmice, e nos façam mergulhar em idéias que jamais imaginaríamos sozinhos...
Não querer que as pessoas sejam como nós, pensem e concordem sempre com nossas opiniões... É nessa troca que crescemos... Para isso, é claro, precisamos nos abrir a mudança, porque afinal, como crescer se formos sempre os mesmos? 
Nem sempre a discordância nos fará mudar de opinião, mas seguramente se dermos a ela livre acesso, aprenderemos coisas novas e cresceremos bastante, sobretudo no âmbito dos relacionamentos.
Aprender a respeitar o outro e a não gerar conflito (principalmente quando se trata de algo acidental e não essencial) simplesmente porque o outro pensa diferente de nós, é uma regra que parece óbvia, mas que às vezes deixamos em casa...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A força da vida

"Quando toccherai il fondo con le dita
A un tratto sentirai la forza della vita, 
che ti trascinerà con se"

Hoje é um dia especial para mim... Meus "De repente 30" =)

Quanta alegria!!!! Quanta alegria por esses 30 anos vividos, e por inúmeros outros que estou louca para viver!

Olho para trás e quanta coisa bela vejo ao longo de minha história...
Como é bom olhar para essas 3 décadas e perceber ao longo dela os amigos, os amores, a família, o cuidado de Deus, a mão Dele a me conduzir.

Não sei bem se algo diferente de fato acontece quando completamos 30 anos, mas é bem verdade que hoje sinto que algo mudou aqui dentro... 
Tudo que esses anos me proporcionaram, em especial os 3 a 4 últimos anos, construíram em mim um novo olhar, uma nova forma de enxergar o mundo, as pessoas, a mim mesma, deu-me uma liberdade interior, conduziu-me a uma primavera onde só eu e Deus podíamos sentir o cheiro das flores... fez-me valorizar cada pequena coisa do dia, e deu-me  assim um sabor diferente pela vida.

Eu teria muitas coisas para dizer nesse dia... mas o maior desejo que nesse momento eu sinto é de agradecer.
Agradecer a Deus, aos amigos, aos amores, a família que eu amo, aos familiares que eu escolhi (meus amados e eternos irmãos de comunidade).

Confesso que quando olho a quantidade de coisas que Deus me proporcionou, quanta vida, quanta coisa vivida, a maioria precocemente, mas que carregaram tanta riqueza, e que resignificaram tantas vezes o meu caminho, me sinto com uns 70 anos...rs... Ao mesmo tempo, quando olho para o futuro, vejo que há tantooooo ainda a aprender, o que é maravilhoso.

Muitas coisas pude viver (ou até sofrer) para não desperdiçar o dom que é viver: vi alguns partirem, alguns chegarem, outros nunca se ausentarem, vi alguns quererem partir, e até eu mesma já quis partir achando que seria a solução para a covardia que eu tinha de enfrentar tantas coisas... 
Recordo-me que minha vida mudou completamente no dia seguinte a morte do meu pai. Naquele dia inaugurou-se em mim uma urgência pelo amor, pelo perdão, por cultivar bons atos, e deixar passar o que não me aproximava da felicidade...

Vivi tantas coisas, tive tantas fases, que tem horas que parece que vivi várias vezes...rs... Fui criança, lembro com alegria de minha infância; fui rebelde,  missionária, roqueira, solitária, hippie, cheia de amigos, farrista, caseira, responsável, trabalhei muito, deixei de trabalhar, empresária, desempregada, sofri, fiz sofrer, fui intolerante, fui "boba", fui apaixonada, fui grosseira e orgulhosa, quis distância de Deus, quis ser freira; amei e tive raiva dos meus pais... Amei, fui amada, ganhei, perdi, vivi até aqui de inúmeras formas e fases, mas com algo em comum em todas elas: O ENORME DESEJO QUE EU CARREGO DENTRO DE MIM DE NÃO VIVER DE QUALQUER JEITO, DE NÃO PASSAR PELA VIDA E NÃO VÊ-LA PASSAR POR MIM DE QUALQUER FORMA.

Sou realmente muito feliz quando olho para trás. Embora nessa história também haja dor, derrotas, decepções, como me alegro com as riquezas que existem em minha história!

Amigos, os melhores... pessoas que me conheceram e me amaram de verdade; pessoas que me ensinaram o que é amar sem exigir, que tornaram tudo mais leve, e que sempre me amaram como eu sou, com nossas diferenças, enriquencendo em mim o valor da verdadeira amizade...

Amores... sim... grandes homens que ajudaram (e muito) na construção do que sou; que me ajudaram a suportar a ausência de meus avós, de meu pai, e de momentos que a vida ficava cinza e sem cor... Homens, amigos, que pacientemente me ajudaram a mudar, a ser melhor, e que deixaram muitas marcas boas em minha vida, sobretudo através do ato de me amarem, me acolherem. Não tem como não ser grata pela alegria que vivemos, no tempo que a vida nos oportunizou estar junto...

Minha família, que eu demorei pra perceber quão amada e necessária era para mim... Pessoas que me fizeram sofrer, que eu feri, que me amaram quando não mereci, que não desistem de mim, que dariam tudo para me ver feliz, que morreriam por mim, que me trazem vida... Pessoas que eu amo, admiro por inúmeros motivos, mas sobretudo por nossa determinação em amar-nos uns aos outros... Pessoas com quem dividi os momentos mais difíceis da vida, e sem os quais possivelmente eu não teria suportado... Pessoas que no silêncio e no riso me guardam, me amam, me elegem, e que eu também, se hoje precisasse escolher, os escolheria para serem família comigo!

Meus irmãos da CAJU... lugar que me recebeu menina, rebelde, arisca, sem nada saber, e que trouxe as ferramentas necessárias para eu viver o tal desejo de não viver de qualquer jeito... Casa que me ensinou a amar, e me fez querer ser amor; me ensinou a ser alegria, sendo amor e deixando-me amar...

Não bastasse... Deus deu-me outro lugar para ser amada... a Comunidade Shalom, que admiro tanto, que me amou, cuidou de mim, e que me trouxe a grande alegria de viver com o Amor da minha vida, e que depositou em mim um grande valor fazendo Deus tomar o Seu lugar e passar a ser a pessoa mais importante de minha vida!

E a minha maior alegria hoje, sem dúvida alguma, é SABER-ME AMADA, saber-me loucamente amada por um Deus que ao longos desses anos submeteu-se a inúmeros questionamentos que eu fiz, rendeu-se a tantas exigência que eu fiz para sentir o Seu amor, e que sempre, sempre me lança um olhar de amor... Esse Deus que eu encontrei na Eucaristia, o beijo mais gostoso que um homem já me deu... um beijo que me inaugura, que me encerra, que silencia minh´alma, que me enlouquece com o desejo de ser felizzzzzzzzzz!!!

Hoje eu queria agradecer a Deus, por Seu amor infinito, constante, fiel e determinado por mim! 
A todas as pessoas, mesmo aquelas que só passaram uma "chuva", que deixando um pouco de si, colocaram um tijolinho na construção do que sou... Trago comigo muito tesouros... sorrisos, lágrimas, histórias, abraços, críticas, olhares, vidas que ao passar pela minha, fizeram toda diferença! A vocês, minha gratidão!
Aos amigos, aos meus familiares, e a todas as pessoas que me incentivam a viver, a perseverar, que são tantas vezes o sorriso que eu não tenho, o abraço que eu preciso, a esperança nos dias de chuva, o sol para celebrar as alegrias... aqueles que me ouvem sem que eu precise dizer, que sem falar me dizem tanto, que multiplicam minhas alegrias, amenizam minhas dores... a todos os sorrisos, olhares, mãos que dão força, e pernas que caminham comigo, vidas que me querem bem, que me amam, e que tornam a minha vida muito boa de ser vivida!!!

Quero viver intensamente cada dia...
Quero extrair vida de todos os momentos...
Quero ser vida aos que estiverem desanimados...
Quero nunca perder o gosto por aprender,
e nunca desistir de ser melhor...
Quero mais, quero muito, quero tudo que a vida puder me dar!
E quero ser também... para ela... alguma coisa que expresse quão maravilhoso é lançar-se inteiramente e sem medo à arte de viver... de viver bem e feliz!
Porque, como diria Charles Chaplin, "a vida é MUITO para ser insignificante."