Sabes bem, eu sempre tive dificuldades em viver esse tempo do Advento.
Não apenas pelo que esse tempo nos convida a viver, mas também sempre recordo meu pai que faleceu dia 20 de dezembro, e que só sua lembrança sempre mexe muito comigo e com o que tenho feito de minha vida, o que acabou aumentando a intensidade do quanto fico "mexida" nesse período.
Tempo em que penso em tantas coisas, no que alcancei, no que ainda precisa ser alcançado, como tenho vivido a vida que Deus me presenteou. Tempo de reconhecer o que em nós precisa ser espera, e o que em nós precisa ser arrumado para o Encontro que virá com o nascimento do Menino.
Ah a tal espera. Como essa palavra já me atormentou rsrs.
Difícil... Olhar para si pela ótica da simplicidade do Menino sempre me faz viver coisas muito profundas, ver coisas lá de dentro mesmo...e isso normalmente não é fácil.
E "pior", mesmo que eu queira fugir, basta olhar um presépio, um luz natalina na rua, que o coração já vai junto mergulhando em coisas que nem quero ou posso naquele instante.
A simplicidade do Natal é quase uma "violência" aqui dentro...porque quero tudo aquilo que envolve o presépio.. Quero ser a manjedoura simples, despojada e acolhedora. Quero aquela família abraçada no Menino. Quero ser aqueles reis magos que dão presentes e reconhecem no Menino Sua grandiosidade. Quero ser o burrinho que levou aquela família pra lá. Quero ser a estrela que mostra onde Ele está... Quero tanto e não consigo tantas vezes sequer ser uma ovelhinha daquela quieta ali ao lado contemplando a obra prima que é Aquele Menino Deus.
Eu não percebia que o mergulho nessa espera, nesse preparo, incluía o preparo que Deus vem fazendo também comigo ao longo dos anos; com calma, com dedicação, sem ser agoniado e de qualquer jeito.
Era preciso calma...paciência comigo mesma...com minha vida, meus sonhos. Caaaalma....
Esse ano tudo começa a ser diferente, a partir do teu olhar.
Nunca antes tive tão perto tua amizade. Há algum tempo isso tem mudado, mas esse ano acho que foi quando de fato ela se estabeleceu e amadureceu. Nem sei como demorei tanto para ter essa amizade. Ficaste escondida, cuidando de mim, e deixando eu me aproximar com muita calma. Fui antes amiga de todos os outros: Jesus, Espírito Santo, Deus Pai, santos, anjos, e por fim, você chegou, minha mãe.
Há tanto tempo insistias. Reconhecia tua presença, e já a amava, mas não sabia o que era ser tua amiga. Não sabia mesmo... É bom demais da conta!!!!! :)
Hoje, a partir de teu olhar, começo a enxergar esse aniversário tão diferente!
Te olho e vejo teu sorriso no preparo de cada detalhe. Te olho e vejo tua alegria com a empolgação de José. Te olho e vejo como te surpreendes conforme tua barriga vai crescendo. Te olho e te vejo cantando para Ele aquietar no teu ventre e te deixar dormir. Aquele deserto, que atravessaste com José, que eu tive a graça de conhecer esse ano... Desde lá já me falavas tanto desse tempo da Espera.
Olho para ti, e estás constantemente olhando para Ele, se remetendo a Ele, teu Menino. Me revelas os mistérios com uma delicadeza tão bela.
Minhas dores, desertos, inseguranças, incertezas do futuro, inquietudes, encontraram em ti e em tua vida o consolo, colo, a serenidade para lidar com todas as lutas, com alegria e paz.
Minha mãe, me leva contigo... Quero viver esse Advento a partir de teu olhar. Quero estar ao teu lado na hora do parto.
Me leva contigo? Me arruma? Separa a roupa certa? Prepara meu coração para esse dia.
Quero celebrar como nunca essa festa esse ano!
Irei a essa festa! Sou convidada da mãe do aniversariante :)
O que eu espero hoje? Eu espero não esperar nada dessa vez. Quero fechar os olhos e simplesmente ir... Ir contigo, aonde quiseres, na velocidade que quiseres dar aos nossos passos.
Seja bem-vindo Advento!
